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Audiência Pública - Câmara Federal

Autismo: características, diagnóstico e intervenção

Nosso agradecimento especial ao Dep. Federal Arnaldo Faria de Sá.

Dr. Clay Brites: "Primeiro o olhar do profissional de saúde e de educação precisa mudar: não pode ser um olhar passivo voltado só para a sua área."

Amanda compunha a mesa. Na mão uma bolinha vermelha, que transitava entre os seus dedos constantemente. Ela denomina esses movimentos de stimming e foi contundente em afirmar que a expressão “estereotipia” tinha virado um estereótipo! Todos tinham tempo limitado para apresentar sua fala, pesquisa e defesa em relação ao tema. Amanda teve tempo ilimitado. Falava do que vivia, sentia e experimentava dentro e fora do seu corpo. Ali, naquela mesa, somente ela poderia falar de fato pelos autistas. A consciência da representatividade estava muito clara para mim e para todos ali presentes.

Ninguém que esteve ali, vai exigir interação social de um autista, muito menos forçar que ele apresente contato visual. Amanda falou como os autistas se sentem, como conseguem interagir melhor. Falou das exigências sociais e acadêmicas abusivas. Mas a grande pérola dela foi dizer em alto e bom som: “Nada sobre nós, sem nós.” Amanda reivindicou o direito de ter em todos os locais onde profissionais e autoridades forem falar de autismo, a presença verdadeiramente representativa de autistas. “Ninguém deve falar de nós, sem a nossa presença.” Achei aquilo libertador! E fiquei pensando nas confusões e injustiças sociais que vivenciamos, por não ouvirmos verdadeiros representantes. 

“Nada sobre nós, sem nós!”

 

Nove e meia da manhã, uma terça chuvosa e um engarrafamento do cão. Câmara dos deputados, audiência pública, saúde, educação e política reunidos em torno de um tema: Autismo. A mesa é composta por médico, psicopedagogo, especialista em educação especial, professor e o deputado responsável pela condução da audiência. Quem seria desses profissionais, a melhor indicação para representar os autistas do Brasil? 

 

Nenhum deles! Apesar do conhecimento e pesquisa que os envolvem na temática, apesar do comprometimento visível nesta causa, apesar dos olhos brilhantes, todos falavam de algo que estava fora deles. Menos ela, Amanda Paschoal. 25 anos. Diagnosticada com autismo aos 7 anos. Hoje universitária, cursando Artes Plásticas. 

Luciana Brites: "A escola toda precisa estar preparada para receber esse aluno. Não é só o professora. Todos têm que se preparar para receber esse conhecimento."

Quer implementar mudanças para a inclusão de crianças que apresentam necessidades especiais? Ouça quem apresenta o transtorno. Procure saber como se sentem, quais são seus maiores desafios, suas dores. Em quais momentos se sentem excluídos da sociedade. 

 

Quer ensinar adolescentes? Ouça-os, deixe-os contar sobre seus sentimentos, suas transformações, curiosidades, medos e desejos. 

 

Depois da fala da Amanda, tudo fez mais sentido! Todas as participações foram consolidadas a partir da expressão da representante.

Especialmente a fala do professor Casemiro, professor de sociologia pelo Instituto Federal Catarinense, que corajosamente afirmou que o mundo não vai acabar se algum aluno não aprender matemática, física ou outra disciplina! A escola não pode ter o foco em eficiência, o foco da escola é a humanidade. Reconhecer as diferenças e trabalhar com os desejos e possibilidades de cada um, potencializando todo o grupo.

Casemiro Motta: "A escola precisa mudar seu paradigma de possibilidade de cura e de trabalho para o de humanização, pois os humanos são configurações de existência."

Assim, a certificação deixa de ser focada na eficiência padrão, para focar na possibilidade real a ser potencializada. A este processo ele chamou de “Reconhecimento de Saberes”. Experimento que ele vivencia com 2 jovens autistas no instituto. Um deles já certificado por seus saberes e aceito em universidade. Ali naquele auditório, tudo fez mais sentido. Minha concepção de inclusão foi ampliada. Minha esperança fortalecida. Quero ouvir mais Amandas. Prometi a mim mesma dar voz a quem eu quero alcançar. Sejam autistas, desatentos, deficientes intelectuais. Falar deles, com eles é a prova de intencionalidade verdadeira. Os que assim praticam, querem de fato a mudança. 

 

Gratidão por esse dia 04 de outubro chuvoso, pelo honroso convite da querida Viviane e por minha feliz decisão em aceitar. 

 

Profª Zilanda Souza – Neuropsicopedagoga
desenvolvimentoeaprendizagem@outlook.com

coluna Desenvolvimento e Aprendizagem

Viviani Guimarães: "Quando uma família recebe um diagnóstico, ela se perguntar: será que meu filho vai ser tudo o que eu imagino? Vai. E vai além de toda a expectativa que a gente tenha."
Amanda Paschoal: "O modelo médico diz que a deficiência é uma doença e que precisa ser curada, normalizada e padronizada. Mas a deficiência não é um diagnóstico do corpo e, sim, da sociedade. Então: nada sobre nós sem nós!"
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